domingo, 18 de novembro de 2007

A Baixa Pombalina

•Podemos concluir que, apesar do projecto inicial não ter sido executado na totalidade, tendo em conta as limitações surgidas ( as invasões francesas e as guerras liberais), a obra de reconstrução da Baixa de Lisboa, pelas inovações técnicas aplicadas e pela originalidade e eficiência das soluções urbanísticas, arquitectónicas e construtivas escolhidas continua a ser uma das mais interessantes e importantes obras públicas empreendidas no nosso país.
• De referir ainda, o aproveitamento que Sebastião José de Carvalho e Melo fez da situação excepcional que defrontou para reconstruir livre de constrangimentos uma cidade racional e moderna, símbolo das ideias iluministas que rompiam um pouco por toda a Europa e que defrontavam as antigas estruturas do velho regime. Por uma vez Portugal estava, a nível europeu, na vanguarda.
Para Marquês de Pombal a destruição causada pelo terramoto significou uma dádiva da fortuna, a oportunidade ímpar que lhe abriu o caminho para as reformas de que, a seu juízo, Portugal carecia.

Construção em "gaiola"



“…a gaiola de madeira, ligando os diferentes elementos da construção, impede que se separem e, ao mesmo tempo, tendo em conta a elasticidade, amortece os efeitos dos choques…”
•A “gaiola”, no essencial, era uma espécie de jaula de madeira (carvalho ou azinho) constituída por elementos verticais e elementos horizontais ligados entre si por um sistema de travamento tipo macho-fémea que resistia a vibrações, tracções e torções.
•Era frequente e inovador na construção dos edifícios os carpinteiros entrarem primeiro em obra, pondo de pé parte da estrutura de madeira, e só depois avançarem os pedreiros, levantando as paredes de alvenaria. È de salientar que estes dispositivos de ligação são idênticos aos que hoje recomendam os manuais de reabilitação sísmica de edifícios antigos.

Plano de reconstrução

•As soluções construtivas, engenhosas e inovadoras, só foram possíveis graças à qualidade técnica do arquitecto Eugénio dos Santos e ao engenheiro Manuel da Maia.
•Estava assim, criado o “estilo pombalino”, um “utilitarismo moderno”, funcional e moderno.
•Foi adoptado um modelo em que eram proibidas as obras de iniciativa particular;
•Os proprietários dos terrenos foram obrigados a reconstruir segundo o plano geral num espaço de 5 anos, sob pena de serem obrigados a vender os terrenos.
•À cidade medieval de ruas estreitas deu lugar um traçado racional de linhas rectilíneas em que os prédios têm todos a mesma altura.
•Foram projectadas cloacas (esgotos) ao longo das principais ruas para onde confluíam os ramais dos vários edifícios.
•Foram também considerado nos estudos iniciais um sistema de abastecimento de água ao domicílio, revolucionário para a época, mas que se ficou pela construção de chafarizes nos pontos mais carenciados.

Acção do Marquês de Pombal após o terramoto


•Foi neste contexto de tragédia e confusão que Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal), então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, revelou as suas capacidades de chefia e organização ao encarregar-se da restituição da ordem e da reconstrução da cidade.

Medidas tomadas pelo Marquês de Pombal após o terramoto.
•Passou à prática a política de enterrar os mortos e cuidar dos vivos.
• Impediu a fuga da população ao providenciar socorros e ao distribuir alimentos.
• Puniu severamente os que se dedicavam ao roubo de habitações.
•Começou a pensar na reconstrução de Lisboa.

A destruição provocada pelo terramoto


•Os incêndios lavraram por grande parte da cidade durante intermináveis dias. Foram dias de terror. As igrejas do Chiado e os conventos ficaram destruídas.
•A capital do império viu-se em ruínas, já para não falar de outras zonas do país, como o Algarve, muitíssimo atingida pelo sismo e maremotos subsequentes.
• Do Convento do Carmo, construído ao longo de mais de trinta anos e terminado, provavelmente, em 1422, com o empenho e verbas do Condestável Nuno Álvares Pereira, sobrou um amontoado de ruínas.
•A comunidade italiana que mandara construir a Igreja do Loreto viu cair o sino da torre, e, de seguida, o incêndio tudo consumiu. Ficaram os escombros.
•Quanto às igrejas da Trindade e do Sacramento desapareceram. «O Sacramento, das 17 freguesias que sobre a ruína do abalo sofreram o estrago do incêndio, foi das mais destroçadas nessas horas funestas.»
• Não foi poupado o antigo Convento do Espírito Santo.
•Na voragem do terramoto de 1755 desapareceram cinquenta e cinco palácios, mais de cinquenta conventos, a Biblioteca Real, vastíssima em livros e manuscritos e as livrarias (como sinónimo de bibliotecas) dos conventos de S. Francisco, Trindade e Boa Hora. As chamas reduziram a cinzas milhares de livros em cinco casas de mercadores de livros franceses, espanhóis e italianos, e em vinte e cinco – contadas por Frei Cláudio da Conceição – lojas e casas de livreiros.
•Salvou-se o precioso arquivo da Torre dos Tombo, devido aos cuidados do seu guarda-mor Manuel da Maia.

O terramoto de 1755

O sismo teve o epicentro no mar, a oeste do estreito de Gibraltar, atingiu o grau 8,6 na escala de Richter e o abalo mais forte durou sete intermináveis minutos.
•Por ser Sábado, acorreram mais pessoas às preces. As igrejas tinham os devotos mais madrugadores. Só na igreja da Trindade estavam 400 pessoas. Se os abalos tivessem começado mais tarde, teria havido mais vítimas, pois os aristocratas e burgueses iam à missa das 11 horas.
• Depois dos abalos, começaram as derrocadas.
•O Tejo recuou e depois as ondas alterosas tudo destruíram a montante do Terreiro do Paço e não só. Era o fim do mundo
O tsunami gerado pelo sismo, para além de atingir com muita violência Portugal e Marrocos, foi sentido também no norte da Europa, nos Açores, na Madeira, nas costas do Brasil e até nas Antilhas.
•Estima-se que no terramoto de Lisboa de 1755, cerca de 80% das quase 100.000 vítimas tenham sido causadas não pelo sismo mas pelo tsunami com ondas de 20 m de altura que arrasou a cidade meia-hora depois do abalo sísmico.
(...) Ao olhar para a cidade, vi que os prédios mais altos rachavam e desmoronavam-se com grande ruído, arrasados com três abalos seguidos, intermitentes e violentos. Quase todos os palácios e igrejas grandes foram rachados ou abateram em parte e poucas casas ficaram em estado de continuarem a ser habitadas.
Todas as pessoas que não foram esmagadas mortalmente pela queda dos edifícios correram para os largos e para as maiores praças e aquelas que estavam mais perto do rio procuravam salvar-se em botes ou qualquer coisa que fosse possível flutuar.
(...) Enquanto a multidão se juntava à beira do rio, a água elevou-se a uma tal altura que invadiu e inundou a parte mais baixa da cidade, aterrorizando tanto os já horrorizados habitantes que mesmo aqui de bordo podíamos ouvir os seus gritos terríveis e via-se a multidão correndo de um lado para o outro completamente desorientada, convencida de que tinha chegado o fim do mundo (...) e gritando: "O que será de nós! Nem a água nem a terra nos protegem, e o fogo parece ameaçar a nossa total destruição!" como, com efeito aconteceu.

Do terramoto de 1755 à Lisboa Pombalina


(...) O terramoto teve início às 9 horas e 40 minutos do Dia de Todos os Santos, 1 de Novembro de 1755. A terra tremeu três vezes, num total de 17 minutos, e, durante vinte e quatro horas, a terra não deixou de estremecer.
•Tudo aconteceu no dia 1 de Novembro de 1755. Como era Dia de Todos os Santos, as pessoas tinham acordado cedo para irem à missa. Como era dia de guarda (como se chamava aos feriados religiosos), havia muitas velas acesas nas casas e nos altares das igrejas. Além disso, o dia estava frio, o que fez com que as pessoas tivessem deixado as lareiras acesas. Mas, ninguém podia imaginar o que iria acontecer…
•Eram cerca das 9h e 40m da manhã, quando se sentiu um abalo de terra muito violento.

domingo, 4 de novembro de 2007

O estado da Nação quando D. João V morreu

O reinado do "Magnânimo" ficou famoso pela tendência do monarca em copiar Luís XIV e a corte francesa. O ouro do Brasil deu ao soberano e à maioria dos nobres a possibilidade de ostentarem opulência como nunca anteriormente tinha acontecido. Por toda a parte se construíram igrejas, capelas, palácios e mansões em quantidade. Em Mafra, perto de Lisboa, um enorme mosteiro exibiu a magnificência real. D. João V ocupou-se igualmente das artes e das letras, despendendo vastas somas na aquisição de livros e na construção de bibliotecas. Como em tantas cortes do século XVIII, a depravação moral ocupou lugar preponderante.
(A. H. Oliveira Marques, História de Portugal)

Testemunhos desta época

Uma explicação muito popularizada desse fenómeno consiste em responsabilizar o próprio D. João V pela dissipação dos tesouros vindos do Brasil. É verdade que o Rei consumiu quase tudo quanto ao Estado coube no rendimento das minas brasileiras na manutenção de uma corte luxuosa e em gastos enormes relacionados com o prestígio real. Aliás, algumas dessas minas de ouro e diamantes no Brasil acabaram por esgotar-se rapidamente.
Outros testemunhos dão conta de um país arruinado e da maioria das actividades económicas nas mãos de estrangeiros, depois da morte do "Magnânimo". Esses empresários e artífices estrangeiros tinham sido muitos deles convidados (e subsidiados) por D. João V, com o pretexto de desenvolver a indústria nacional. Em 1750, quando morreu o Rei, a maior parte deles estavam falidos!

O que dizem os historiadores

Apesar do ouro e dos diamantes vindos do Brasil, continuou a haver em Portugal ricos e pobres como dantes. A respeito deste ciclo do ouro, o Professor Hermano Saraiva diz que "a maré alta passou por nós como o vento e deixou o País como dantes"O período de maior afluxo de ouro brasileiro coincide aproximadamente com o longo reinado de D. João V, que se estendeu por perto de meio século (1706-1750). Mas o aumento da receita pública e privada não se repercutiu em modificações sensíveis na estrutura social portuguesa.

Aqueduto das Águas Livres





Para ter água com fartura, o povo teve de pagar. Mas valeu a pena!

A arte no reinado de D. João V





Convento de Mafra, em que chegaram a trabalhar 50 mil pessoas, para não falar do exagero dos dois carrilhões, com um total de 114 sinos, que encomendou para as torres do Convento. Em toda a Europa, este é o único monumento em que há dois carrilhões! D. João V quis que Mafra desse não só nas vistas, mas também nos ouvidos. Por isso mandou compor peças musicais para serem executadas por dois carrilhões ao mesmo tempo. E, por ordem do Rei, até vieram músicos de toda a Europa para as tocarem.

D. João V, o rei absoluto

Dentro desta conjuntura política europeia, D. João V seguiu as pegadas de Luís XIV (símbolo máximo do absolutismo europeu) e fez-se um Rei-Sol à portuguesa. Tornou-se o centro das atenções de todo o reino de Portugal e imitou a corte francesa.
Durante o seu reinado as cortes deixaram de ser convocadas – o Rei, e só o Rei, mandava.

O luxo na corte

A corte de D. João V tornou-se famosa pela sua riqueza e ostentação. Os palácios do rei eram mobilados com grande luxo, muitas vezes com peças em talha dourada, por cima dos móveis eram colocados objectos em prata e peças de requintadas loiças.
Para mostrar a sua riqueza e o seu poder organizava concertos, bailes, espectáculos de ópera e de teatro, assim como opulentos banquetes. O café, o chocolate e o chá eram bebidas raras e caras que serviam para terminar a refeição. Também se aspirava o rapé.